O casco é uma estrutura muito especializada, pois concentra duas características importantíssimas que são a resistência e a flexibilidade. Por isso é necessário o casqueamento e ferrageamento. Resistência pela pressão gerada sobre ele em qualquer terreno e situação, até parado o casco está sendo pressionado. Flexibilidade porque ele se adapta com facilidade aos diferentes terrenos, flexível para se deformar no momento da absorção do impacto e para se adaptar aos diversos desvios.
A arte ou ciência de ferrar cavalos é uma atividade que se confunde com a própria história do homem, pois, com sua forte capacidade de observação e constante necessidade de desbravar novos terrenos em busca de alimento e espaço, a domesticação e parceria com o cavalo foi e continua sendo fundamental até́ os dias de hoje. Graças a essa convivência, o homem desenvolveu a agricultura, suas técnicas de guerra e o aprimoramento do aprendizado dessa estreita relação homem-cavalo.
Nos primórdios, o ferreiro foi o primeiro profissional a cuidar dos cascos, já que era ele quem possuía o domínio do fogo e do aço e, com isso, a habilidade de confeccionar as ferraduras, que datam de algo em torno de 3.000 A.C., na região do que hoje é a China.
A necessidade de se ferrar os cavalos nasceu da observação dos próprios exércitos e dos homens comuns, que tinham enorme dificuldade de enfrentar grandes distâncias, terrenos irregulares e as severas condições climáticas por falta de proteção em seus pés. E com os equinos isso não é diferente. Foi, então, graças à capacidade de observação e adaptação do homem, que surgiu o trabalho do ferrador. O primeiro ferrador de que se tem registro foi Tubal Cain, relatado em Gênesis Capitulo 4, versículo 22.
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Casqueamento e Ferrageamento – como começou
As primeiras ferraduras de que se tem informação histórica denominavam-se hipossandálias e foram desenvolvidas pelos Romanos. Os cavalos do Imperador Nero usavam ferraduras forjadas a ouro, e os animais de sua esposa, de prata. Então surge a lenda que achando uma ferradura, terá sorte.
Existiram diversos tipos de variações das antigas ferraduras, sendo o aço o material mais popular entre os ferreiros da atualidade. Porém atualmente novos modelos foram desenvolvidos para adaptar-se melhor as atividades realizadas pelo cavalo. As palmilhas, por exemplo, são materiais plásticos e planos que podem ser fechados ou abertos no meio, seguindo o formato da ferradura. Seu uso é recomendado para auxiliar o processo de amortecimento do impacto gerado pelo movimento do casco; nos casos de necessidade de compensação de comprimento ósseo; síndrome do casco alto e do casco baixo; e em situações em que é preciso modificar os gestos de locomoção em algumas raças, como a Árabe, Manga Larga Marchador e Campolina. São fabricadas com espessuras que variam de 3 mm a 8 mm.” – Aluísio Marins, MV
Apesar de não serem mais utilizados para fins bélicos, os cavalos continuam sendo exigidos ao máximo, na prática de diversos esportes hípicos. A presença de alterações nos cascos, como no seu equilíbrio, pode causar claudicação e também predispor a outras doenças do aparelho locomotor, afetando o desempenho atlético e a longevidade do animal nas competições. A evolução na organização dos eventos, o surgimento de centros de treinamento e a crescente valorização dos animais não têm sido acompanhados por um fator de extrema importância no manejo desses animais: o cuidado com os cascos dos cavalos destinados à competição. Soma-se a esta realidade a carência de profissionais com treinamento técnico adequado para garantir o casqueamento e ferrageamento correto garantindo uma distribuição uniforme do peso do animal. Esse procedimento é de extrema importância, uma vez que, afeta a maneira do casco tocar o solo, a duração do vôo, o momento em que ele deixa o solo e se feito incorretamente pode ser causa de lesões relacionadas com a aterrissagem e suporte de peso. Em potros novos, o casqueamento, e se necessário o ferrageamento corretivos, se realizados adequadamente e antes do fechamento das epífises ósseas, melhoram aprumos deficientes. Quando adulto, o animal de esporte, com melhores aprumos, apresentará membros mais equilibrados e, portanto, mais saudáveis.
Dessa forma, a podologia, ciência que estuda os problemas dos cascos ganha cada vez mais destaque na medicina equina. – Márcia Franco, MV
Referências Bibliográficas FRANCO TRIDENTE, MÁRCIA. The importance of trimming and shoeing the athlete horse. Botucatu, 2011. 16p. Medicina Veterinária, Área de Concentração: Medicina Esportiva Equina.
MARTINS, ALUÍSIO. Curso Básico de Casqueamento e Ferrageamento. Universidade do Cavalo.